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Ely Leal

No 1º mês de "lives", ex-Presidiário mente, omite e audiência não sobe

Cinco primeiras transmissões ao vivo, se somadas, chegam a pouco mais de 570 mil visualizações, com promessas requentadas, tom de propaganda e pouca prestação de contas

O primeiro mês de lives do ex-presidiário que está na Presidência pelo PT, foi marcado, sobretudo, por discursos vazios, promessas requentadas e distanciamento com os espectadores.

Batizada de “Conversa com o Presidente”, a transmissão ao vivo, ainda que tenha bebido da fonte das tradicionais lives semanais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), está longe de ser um sucesso da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom).

Isso porque, embora tenha como objetivo aproximar o presidente dos eleitores e trazer uma prestação de contas aos espectadores, na prática, o mês de estreia do programa com o ex-presidiário teve como destaque contradições sobre o agronegócio, omissão do pagamento de emendas e poucas dados concretos do terceiro mandato do petista.

Nas cinco primeiras transmissões, o sujeito que está como chefe do Executivo federal concentrou suas falas, principalmente, em temas como salário-mínimo, Amazônia, economia, meio ambiente e agricultura, mostra levantamento da agência Lupa.

Além desses assuntos, que figuram entre os cinco mais citados pelo ex-presidiário, as falas se concentraram em termos como negociações, com destaque para a antecipação do programa Desenrola Brasil; Minha Casa Minha Vida; e fake news.

Diferente do modelo usado na gestão Bolsonaro, que era mais informal e até “caseiro”, o tom da conversa com o ex-presidiário se assemelha ao modelo de podcast, mas com discursos habituais de campanhas. “O povo brasileiro tem que ter paciência”, “estou extremamente satisfeito” e “vamos trabalhar muito” foram algumas das frases emblemáticas do presidente na primeira entrevista, de 13 de junho, quando ainda disse que “nunca teve problemas com o agronegócio”, embora tenha, dias antes, criticado a Agrishow, maior feira do agronegócio do país, e chamado seus organizadores de “facistas” e “negacionistas”.

As transmissões seguintes não foram diferentes. Embora o ex-presidiário tenha chegado a falar sobre suas próximas viagens ao exterior e projetos de leis sancionados, em mais de uma ocasião ele perdeu a oportunidade de adotar o tom de prestação de contas aos espectadores, como citando o resultado das viagens internacionais para o país, por exemplo.

As “conversas como ex-presidiário” também abordaram, em “tom diplomático”, temas como meio ambiente, críticas à gestão anterior e ao 8 de Janeiro, a aprovação da reforma tributária e a relação com o Congresso Nacional, mas não houve a menção às seguidas liberações recordes de emendas parlamentares, nas vésperas das votações. “Não é a política que é dando que se recebe”, chegou a dizero cara de pau.

No total, as cinco transmissões ao vivo, se somadas, chegam a pouco mais de 570 mil visualizações. Sendo que a primeira soma 183 mil visualizações e a última, 77 mil – o que, além de tudo, mostra um evidente declínio na audiência.

Ainda que as lives tenham sofrido mudanças de cenário para reverter o fracasso inicial, a avaliação é que, por mais que o ex-presidiário fale bem e minta melhor ainda, o formato aparenta uma propaganda política e não atrai a população.

“Isso diverge muito do que o Bolsonaro fazia, porque apesar dos cenários precários, ele apresentava uma imagem mais espontânea na forma e nos conteúdos, nas falas, nas explosões que ele tinha. Lula, ao contrário, está sempre muito simpático, falando que quer ajudar a população. É um processo de aprendizado por parte do Partido dos Trabalhadores, que tem um problema de comunicação histórico com a população”, explica o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Enquanto o atual formato aparenta uma campanha e se assemelha aos discursos protocolares de Lula, o modelo anterior, com foco na prestação de contas, se justificava como um serviço ao cidadão. “A sensação é que a conversa com Lula foi orquestrada, as perguntas foram previamente estabelecidas. Não há uma interação direta com o público, tal como Bolsonaro expressava em suas lives.

E ainda que falsamente, ele mostre um certo otimismo, isso sempre soa como campanha eleitoral. Esse formato é mais do mesmo que vemos nos discursos do Lula, nos protocolos presidenciais ou mesmo durante as campanhas”, pondera o cientista político. Paulo Niccoli Ramirez afirma que, mesmo com as críticas ao antecessor, Lula adota um tom político e de permanente otimismo, o que não soa verdadeiro. “Bolsonaro, com todas as suas falhas, parecia mais humano. Não em termos de carisma ou competência, mas de ser mais falho e dialogava com um público dele. Já Lula, não. Ele tenta falar para todos, o que acaba afastando uma parte do eleitorado que não gosta dele e vê como manipulação e hipocrisia essa ideia”, conclui.


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